sábado, 4 de dezembro de 2010

sangraste-me

                Tinhamos tudo para dar certo. Espero que saibas disso. Respeito, confiança, lealdade. Tínhamos tudo, excepto esse grande cabrão que é o timing. Tudo na vida é uma questão de timing: do alimento um dia fora do prazo de validade ao artista fracassado cujas obras-primas eram avançadas demais para a sua época. Como eles, essa grande obra-prima que era o amor entre nós floresceu no tempo errado. Compreende: não foi por ignorância em relação a esse sentimento que nos matou os dias conjuntos. Sabíamos, até, demais para o que era suposto. Só não sabia(mos) o que fazer com ele.
                Percebe, então, que o meu coração ficou pequeno demais para tanto amor - tanto que me transbordaste. O meu sangue respirava-te e no entanto precisava de outros oxigénios que o permitissem revestir o coração e prepará-lo para ti. Necessitava de outras andanças, de perder para ganhar, cair para me afirmar. Mas tu entraste-me de rompante, como quando abrimos a porta e a brisa bate-nos de chapa na cara dos sentidos sem hipótese de nos protegermos, e eu não pude simplesmente esperar que te enfiasses num casulo e te transformasses em borboleta apenas quando o meu estômago estivesse preparado. Porque tal como o Vah Gogh não pôde ressuscitar para presenciar a venda dos seus quadros, também nós não pudemos voltar a semear um amor que em tempos nasceu espontâneo em terras pouco adubadas.
               
                Restam-me duas palavras para ti. Desculpa. E obrigada. Desculpa por em algum momento não te ter achado bom o suficiente, perdoa-me o coração por ter querido mudar de dono, ou simplesmente capitanear sozinho. Eu já me perdoei. Obrigada porque me mostraste o amor, porque o meu coração cresceu sedento de um Homem como tu, assim mesmo com H grande. E agora que o encontrei, e que não és tu, espero que saibas que tínhamos tudo para dar certo. E que nem sempre isso é suficiente…

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