quarta-feira, 6 de outubro de 2010

um nada vazio de ti.


Pai, 
         Só não te perdoo o quase teres-me feito odiar abraços. O resto é ausência… Vazio. Um nada.

sábado, 2 de outubro de 2010

#30 letter to your reflection in the mirror

        Olho-te e nem sempre te reconheço. Há dias em que gosto do que vejo – em que me transmites confiança e vaidade e fazes-me pensar, quase acreditar, que te amo. Outros dias há que não sei se és mesmo tu que lá estás, ou uma imagem à minha semelhança que invento para enganar o espaço e o tempo. Nesses dias assemelhas-te a uma imagem esbatida num espelho embaciado, depois de um banho quente que me enrugou a pele e a alma.
        Não sei se é mesmo como dizem, e se desse lado do espelho o mundo é mais belo e mais farto de vida. Se assim for, só te peço que me estendas a mão, num desses dias em que te olho e não te reconheço, e que me mostres o amor-próprio. Depois podes voltar a empurrar-me para este lado (que é afinal o único e mais real que consigo alcançar), que eu deixo.
        E na derradeira vez que te contemplar, nesse exacto momento que precede o do espelho se partir para sempre, espero poder olhar-te e ver-me, ver-te enquanto me olho. Até lá, só desejo que a cada vez que te observar ame um pouco mais a imagem que se me afigura transfigurada diante dos meus olhos, pois será sinal que não paralisaste no tempo e estás a construir-me dentro de ti, aos poucos, a cada dia que passa.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Descobertas interiores

Estou a dar Fernando Pessoa em português 12º ano. Para já, estamos no ortónimo e ainda não chegamos aos heterónimos, mas não é que descobri que estou mesmo a gostar de Fernando Pessoa?! E o facto de ser a única da minha turma deixa-me um pouco desconfiada (Am I a freak?!). A verdade é que não acho uma beleza anormal nos seus poemas, o que realmente me prende a atenção é aquilo que ele pretende transmitir com esses mesmos poemas. 

Atrai-me a maneira d'ele pensar, e que tanta dor lhe provocava, e a forma como ele põe em evidência esse contraste entre os sentimentos e a razão. Quando racionalizamos os sentimentos, começamos a ser infelizes e talvez seja aqui que reside a chave para a verdadeira e plena felicidade: sentir com o coração, deixando de fora a razão!
Efectivamente, nunca conseguiremos, por mais que tentemos, explicar por palavras aquilo que verdadeiramente estamos a sentir - podemos tentar ao máximo uma aproximação, que nunca corresponderá à realidade total do sentimento por nós sentido! Como ele próprio afirma sob o heterónimo de Bernardo Soares: "(...) o que, afinal, tenho que fazer é converter os meus sentimentos num sentimento humano típico, ainda que pervertendo a verdadeira natureza daquilo que senti." Identifico-me bastante com esta posição, uma vez que venho há muito tempo procurando inspiração para escrever sobre todo o remoinho de sentimentos que me estão a arrasar dentro do peito, e não tenho conseguido encontrar as palavras certas para tal - todas me parecem insuficientes, pequenas demais perante tão ferozes sentimentos - pelo que encontro no poeta uma explicação para o sucedido.

E pronto, é isto: identifico-me com Fernando Pessoa. Gosto e pronto. (You can kill me now)